Processos de Pesquisa
É muro rachado de hera (Teatro)Unaluna - Pesquisa e Criação em Arte e Coletivo rachado de hera (SP)
O desejo que impulsionou o início da pesquisa, em 2012, foi o de buscar narrativas de imigrantes, em especial, a trajetória de mulheres. O que é para elas ser estrangeira? Deparamo-nos, a princípio, com as narrativas familiares de cada uma das atrizes-criadoras, cujas raízes voltam à Polônia, Espanha, Portugal, Romênia, Egito e ao nordeste brasileiro. Entretanto, além do que experimentar cenicamente estas fábulas ancestrais, interessa-nos “tirar o mofo” das narrativas e fazer do eco que elas provocam hoje, material de pesquisa. As histórias do passado se uniram à urgência das imigrações contemporâneas no país. Neste sentido, organizou-se, durante o processo em curso, um evento denominado “chá das imigrantes”, em que encontramos mulheres dispostas a compartilhar suas histórias. Buscávamos compreender os processos diários de alteridade, tão complexos e de múltiplas naturezas. Perguntamos então o que significava, para nós, ser estrangeira. Pensar sobre ser estrangeiro nos fez reconhecer a história da formação do povo brasileiro, mestiço, de identidade híbrida, fronteiras borradas. Assim como realizar essa pesquisa criativa em São Paulo trouxe uma observação atenta das questões sociais, políticas e econômicas que envolvem o tema e permeiam a condição dos imigrantes. No diálogo com as narrativas contemporâneas e autobiográficas, também estamos desenvolvendo estudos do universo arquetípico feminino, tendo como suporte figuras como Medeia, a estrangeira, e Nora, a boneca ibseniana, que abandona lar e filhos, ambas Ofélias-nadadoras, atravessando oceanos de incertezas. Temos construído, então, uma interlocução entre mito e identidade, narrativas mitológicas e depoimentos pessoais, na reflexão de nosso ser em trânsito. É preciso explicitar que a construção do espetáculo parte do estudo teórico/prático dos procedimentos da Mitodologia em Arte, desenvolvidos pela dramaturga/encenadora Luciana Lyra.