Espetáculos

Homens e Caranguejos (Teatro)

Dois grupos, múltiplas vozes e um tema: a fome. A UNALUNA - PESQUISA E CRIAÇÃO EM ARTE dirigida por Luciana Lyra , juntou-se ao Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, composto pelas atrizes Beatriz Marsiglia, Camila Andrade, Juliana Mado e Letícia Leonardi, para realizar a montagem do espetáculo inédito Homens e Caranguejos, tramado no romance homônimo do geógrafo pernambucano Josué de Castro, escrito em 1966. Nos meandros desta sua única investida literária, Castro discorre sobre o cotidiano da Aldeia Teimosa, comunidade ficcional, onde não se paga casa, come-se caranguejo e anda-se quase nu.  A trama gira em torno de um menino de onze anos, que chegou aos mangues do Recife com sua família, fugindo da seca de Cabaceiras, depois da morte do irmão mais velho. Sua vida se divide entre como catador de caranguejos, a vontade de brincar e a amizade com um ex-seringueiro que vive no seu mocambo com suas pernas imóveis. Permeado de histórias tocantes, cômicas e contundentes, o espetáculo analisa o fenômeno social da miséria e da fome em todas as suas contradições e consequências, com o objetivo de desnaturalizá-lo e problematizá-lo como uma criação humana

Traduzido em várias línguas, o romance do geógrafo, já foi adaptado para o teatro pela francesa Gabriele Cousin com o título Le cycle Du crabe ou lês aventures de Zé Luiz, Maria et leurs fils João, em 1969, mas nunca foi encenado e nem outra dramaturgia foi produzida em âmbito nacional, especialmente criando interfaces do texto romanceado com a realidade de comunidades existentes no Brasil contemporâneo, como é o caso desta montagem. Nesta versão teatral de Homens e Caranguejos, com dramaturgia e encenação de Luciana Lyra, a ideia não é a transposição literal do romance, mas a criação de fricções entre o universo criado por Josué e o cotidiano de duas comunidades brasileiras: a Ilha de Deus, em Recife e o Boqueirão, em São Paulo, que vem sendo pesquisadas pelas atrizes-criadoras há um ano e meio. Vale apontar, que este processo de fricção entre artistas e comunidades, é lido como um processo de Artetnografia pela diretora, que cunhou este termo no seu doutorado em Artes Cênicas (IA/UNICAMP-SP) e o aprofunda no seu pós-doutoramento em Antropologia (FFLCH/USP).

O espetáculo Homens e Caranguejos foi apoiado pelo ProAC, da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, estreou no dia 26 de maio de 2012,  no Teatro Reynúncio Lima, da Unesp, em São Paulo, seguiu turnês pelo interior de São Paulo, ainda em 2012, e pelos Norte e Nordeste, entre 2013 e 2014. Em 2015, fez-se uma temporada no Teatro João Caetano, em São Paulo.

<< Voltar